É antropológico: mulher odeia ser mandada. São séculos e séculos de opressão. Não dê corda, que já cheira a forca.
Que aconselhe, não emplaque uma ordem. Que ofereça um palpite, este é
despretensioso como um assobio, é soprar uma melodia e permitir espaço
para que ela complete a letra. Finja que está no chuveiro – menor o
risco de se afogar. Fale cantado. Quem canta nunca será um ditador.
Quem não encheu o pulmão para desabafar “você está louca!”, com aquele grito catártico,
que serve como elevador para todo o prédio? Eu confesso, mais de uma
vez. É novamente afirmar que ela não tem domínio, que nem sabe o que
está falando e menosprezar sua opinião. Pode até ser louca, mas não
chame de louca, senão ela não vai recuperar o juízo. Na história do
pensamento, quantas mulheres foram enviadas para o hospício devido a sua
autonomia? Quantas receberam eletrochoque ou sofreram lobotomia em
função da independência de estilo? edia para caçar uma gafe. Cansei até
captar o sinal. O homem ainda tenta melhorar sua imagem com o bombril na
antena.
Eu dizia “você tem
que” a cada início de diálogo. Impositivo, não agia por mal, era um
hábito, buscava convencer com “você tem que”. Parecia que tinha a
solução dos problemas do mundo. Persuasão é a sedução para quem não tem
paciência. Meu caso; não cuidava da linguagem e depois estranhava o
silêncio dela. “Você tem que” é um mandado de segurança. É atestar que
ela não desfruta de condições de conduzir a própria vida. Virava um
segundo pai, determinando suas atitudes. Fugia da cumplicidade, vinha
com os mandamentos e as condicionais de comportamento para que merecesse
a mesada.
O homem não botou na cabeça que a fragilidade da
mulher não é dependência. Ela não precisa ser protegida, e sim
respeitada. Existe uma diferença aguda no tratamento. Depois que ela
fica braba não adianta remendar. Emerge um pânico das cavernas, o receio
de ser puxada pelos cabelos e pelas palavras. Igual é chamá-la de louca
no meio de uma discussão.
E para finalizar não diga no meio de
uma discussão acalorada: " acalme-se meu amor", Porque é o mesmo que
dizer : " Eu não creio no capeta, se o capeta existe ele usa saia"
Joana D’Arc não foi uma bruxa. Assim como vassoura não é para voar, é para varrer qualquer sujeira machista dentro de casa
Nenhum comentário:
Postar um comentário