quarta-feira, 30 de março de 2016

Passou lado a lado




O que os olhos não dizem, o resto se apaga.
Palavras são palavras
A gente diz  tanta coisa sem querer
Em uma frase solta se torna um contexto vazio
Numa afirmação um conteúdo ferido
Numa discussão uma perda de tempo
Agora em um olhar, as palavras perdem todo significado.
Ou é a alma que nos grita alucinadamente:  compreenda-me!
O gestual é outro
O andar é outro
A voz sai presa
Os olhos aproveitam milésimos de segundos para esculpir toda uma história em decorrência da gente
Os olhos é uma vida  e um labirinto repleto de emoções
Cada movimento é um código único: o que eu quis dizer – desfaça tudo
Um sentimento preso: ajude-me a fugir de mim
Uma resposta não dada: tudo sei, só não sei expressar
Uma antecipação de um por quê : volte logo
Parou o mundo, só não parou o pensamento
Eis aqui a fração de segundo desenhada em um caderno de  adulto, transformado em criança.

Até que se aprenda a conviver, somos todos infantis envelhecidos pelo peso de nosso nome, pelo peso de nossa idade e pela convicção falseada de certezas, não mais tão certezas assim.

Nada nesse mundo ocupa tanto espaço quanto nós
Nada nesse mundo passa tão perto e tão longe quanto nós
Nada nesse mundo calcula tanto o que vai dizer e não diz nada quanto nós
Falar o que se sente sempre foi fácil, meramente palavras.
Praticar isso é um fardo para a humanidade. A gente cresce aprendendo que dizer toda verdade é exposição demais:  entende que é errado
A gente aprende assimilar desconfianças e ocultar pensamentos
A gente descobre que o lado bom é ser uma pessoa para o dia e outra pra noite
A gente perde o prazer de ser leve, de amar leve.

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