A ideia da experiência
Na grande literatura de Fausto, o
demônio assopra a ideia que não importa a experiência que eu tenha, ela
continuará insuficiente.
É o começo da vaidade esmiuçada em detalhes
Não importa quanto de sexo eu consiga ter, será sempre insuficiente.
Não importa o quanto de dinheiro ou poder, haverá sempre quem terá mais
do que eu; portanto não me logrará suficientemente satisfeito.
Não há viagem, lugar por do sol ou praia que me dará por satisfeito.
Tudo nesta vida é passageiro
Menos a sua marca
Dentre bilhões de seres humanos nascidos e outros tantos partidos
desta, o que fica é sua marca pessoal. Característica fundamental
Como quererá que te lembrem?
Outro dia ouvindo um longo caso de um amigo meu, absolvendo todo aquele
conteúdo de vida dele, seus problemas, suas ambições, seus medos, suas
preconcepções e metas, e o que ele pensava e queria para o atual
momento, eu quase me desliguei, quando ele terminou olhou para mim e
perguntou:
- E ai? O que tu acha?
Acho que levei uns 30
segundos processando tudo aquilo, e confesso: não tinha a menor resposta
plausível. Foi quando percebi que Fausto tinha razão: a gente nunca
esta preparado.
Quando eu tinha 15 anos, sabia exatamente o que seria da vida.
Quando tinha 18 anos, eu estava nesse caminho e um passo além.
Quando tinha 25 anos, eu estava quase realizado, orgulhoso e vaidoso.
Quando tinha 30 anos, sofri dois tombos, uma cambalhota, e três
piruetas para trás, na escada da vida e voltei 15 anos do meu tempo.
Achei que dali não podia piorar. E não vou dizer que piorou: não é esta a cerne da minha vida.
Mas, achei que já que absolvi aquele conteúdo todo, estava agora experimentado para tudo.
Dali para frente, ao longo de dez anos, enterrei três pessoas de minha
mais alta e intima vida pessoal. E não estava preparado também.
Assim como não estava preparado para o diagnóstico
Nem para muita coisa. Não quer dizer que as cicatrizes de cada dor
recebida, não me deixassem forte – sim – deixou! Mas, é que não se deve
estabelecer conceitos tão vaidosos de si mesmos.
Você acaba desprotegido, exposto, aberto e sofre muito mais pela ignorância própria dos ORGULHOSOS.
Certo dia eu escrevi sobre ajuda: A gente deve pedir ajuda.
Sozinhos, não somos nada.
Mas, antes de pedir ajuda, temos quer ter como certa a obrigação de por
em prática aquilo que recebemos de conselhos, da ajuda.
Grande
parte, ou pelo menos 80% de todo mundo que eu vi passando nos meus 42
anos; acredita que se fizer algo por alguém, vai perder alguma outra
coisa melhor.
Vai deixar, por exemplo, de mais na frente namorar uma pessoa mais bonita ou mais rica.
Vai deixar de comprar um carro melhor ou um emprego melhor
Vai perder a balada ultra mega especial com a galera, porque mudou seu rumo.
É aquela eterna dúvida: ir ou ficar?
No filme Caratê Kid de 1980, o Sr. Miagui fala algo para o Daniel, de
infinita propriedade. Um adágio popular oriental de pelo menos quatro
mil anos. Poucos deram importância, mas eu estive lá vendo e anotei para
mim.
- Se você estiver caminhando pelo lado esquerdo: certo
- Se você estiver caminhando pelo lado direito: certo
- Pelo meio: - Vem o gado e quebra você.
O meio é a duvida. O ponto cego, a tal zona de conforto. Porto seguro
sem terra. A ilusão satisfatória que tudo fica bem, se eu não me mexer.
Boa parte da minha vida, eu não me mexia também, e não impedi que as
coisas viessem em avalanche. Assim é a vida – Assim é o universo. Penso
eu hoje, como os dinossauros olharam aquele enorme cometa de 3 km vindo a
terra e destruindo tudo e a todos, deixando 40 anos da vida no escuro,
frio inverno.
Os únicos primatas inteligentes que sobreviveram
foram os que saíram das arvores e foram para as cavernas. Os que melhor
lograram êxito foram os que deixaram de temer o fogo e o controlaram. Os
que permaneceram nas árvores, quieto, inertes, pereceram todos.
A sua cama é quente, mas não vai proteger das agruras.
O mar é lindo, mas não tem nada de energético nele. É água e sal, somente.
Viajar é uma delícia, mas sem leitura, estudos, conhecimentos, você passará vergonha.
Transar é ótimo.
Mas sem conteúdo, o corpo se esvazia, e sua alma fica suja.
Beijar é uma maravilha, mas sem uma pessoa boa de conversa, sem uma
história triste ou alegre para contar, os nossos dias vão ficando
monótonos e a relação fica líquida.
Ter alguém na porta, à
disposição, ser popular é uma conquista. Mas sem amizade sincera, sem um
amor verdadeiro, sem uma parceira ou parceiro que se importa com seu
chuveiro queimado, os estudos de seus filhos, com seu almoço atrasado,
com suas lágrimas escondidas, nada disso fica por bom tempo.
Ser
feliz é questão de dias. Desculpe dizer: ninguém é feliz o tempo todo.
Pelo contrário, somos resilientes com os dias, e alguns outros que eu
citei acima eufóricos.
Mas, o verdadeiro conhecimento esta em saber disso tudo e querer tudo isso com qualidade.
Ontem eu pensava em excluir muita gente da vida; hoje já penso em
excluir muito conceito morto. Nem sempre tenho razão. Mentira – eu estou
errado sempre! Mas putz... Quando acerto uma fico imensamente feliz,
alguém em algum lugar me entendeu e pensou em mim.
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