quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Viver em cima do muro
O único personagem que vivia aonde a dor não alcançava era o Pequeno Príncipe. De resto, somos todos iguais!
Se você insistir em ficar no muro, verá uma vida inteira passar abaixo de seus pés. Talvez não sofra tanto, mas também não viverá pleno de tudo que tem de ser vivido. 
Uma hora, será chamado pela vida a descer e molhar os pés, sentir o chão, as pedras, o calor que emana da terra banhada pelo sol. Esse chamado é inerente ao ser humano, é o mesmo que nos expele da barriga para o mundo, embora seja um esforço e um trauma, quem quer viver - vê a luz - tem de sair para sentir todos os sabores e dissabores que o mundo nos coloca para experimentar.
Quando não ouvimos o convite e permanecemos onde estamos: “No muro”, o tempo passa voando pela gente, e quando nos apercebemos, os convites acabaram!
Uma vez, garotinho com oito anos, no ônibus das Perdizes para o Jabaquara, uma senhoria de cabelo vermelho, de sorriso farto, entrou pela porta dos passageiros, cumprimentou meu pai que era o motorista e sentou-se ao meu lado. Olhou para mim e sorriu imediatamente, tão forte que não tive resposta, se não sorrir também. Era falante por natureza, contava-me histórias de amores que partiram como se fosse cenas de filmes; intensamente me dizia que o que tinha de fazer, já fez - que a dona morte chegasse, ao invés de medo, encontraria presentes, presentes estes dos dias que mais sorriu e mais amou repleto de histórias tantas que talvez levasse mais meio século para lê-las de como foram seus dias na Terra.
Alguém que vive assim não carrega culpa de nada. Se foi amante, se foi bandido, roubou ou não, retribui mais do que tomou dos outros e da vida. Teve filhos para o mundo. Teve vida para gastar consigo.
Viver em cima do muro é um desperdício!

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