quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Natal de 1981- Um trenzinho para recordar
Quando eu tinha sete anos, já tinha cumprido todos os papéis de menino bonzinho que pedia o bom velhinho. Eu tinha um sonho: Ganhar um Autorama!
Convenhamos mesmo como criança, eu sabia que era super caro. Só os meninos de família rica ganhavam. A Véspera chegou, e fomos cear na casa de um parente. Minha mãe avisou: Presente só dia 25. Quando amanheceu, ela estava olhando-me, esperando acordar, pediu-me para observar em baixo da cama. Rapidamente senti uma alegria e esperança revigorada, algo que só um cérebro de uma criança sabe, é tipo comer algodão doce e andar sobre as nuvens ao mesmo tempo.
- Era meu Autorama? Pensei em perguntar... Mas aprendi desde pequeno, que expectativas frustradas, não se curam jamais. Herdei isso dela, que murchava quando me via dá de ombros para presentes que não queria.
Era uma caixa grande toda verde, e havia outra bem pequena ao lado.A pequena eu sabia que era o plano B. Minha mãe tinha medo de errar, então sempre comprava alguma coisa, tipo plano B. Quando abri a caixa, e note que ela ajudava também, abríamos como se aquele momento tivesse que ser único, pois a ansiedade daquela jovem mãe, com medo de errar, porque não tinha dinheiro para dar um presente que o único filho pedia, me fazia ter o desejo: - Fosse o que fosse - eu gostasse!
- Era um Ferrorama! Tinha duas pistas, quatro pilhas, um trenzinho e três vagões.
- Me esforcei muito para não chorar de desgosto. Minha mãe, sentada ao chão, montava sem olhar diretamente para mim, cabeça baixa, em silêncio no âmago, ela percebia se repetir a história. O segundo presente era um Pirata Maluco. Consistia em um brinquedo, que a gente colocava muitas espadas, até que a cabeça dele pulasse, dando um susto. Eu estava nele, já rasgando do embrulho, e ela no meu Ferrorama.
Desta vez tinha que ser diferente. Abandonei o pirata maluco e coloquei “nosso trenzinho” para rodar, por duas horas da minha vida, fiquei vendo aquele brinquedo em círculos devolver felicidade para gente. Éramos duas crianças. A cada volta, a gente comentava coisas banais, fazíamos promessas de anos melhores, de bom aluno, bom filho, de coisas e situações que nunca se esgotariam, mesmo que antes as pilhas acabassem - a gente tinha se perdoado. O Natal é a gente que faz! Feliz Natal!

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