sábado, 19 de janeiro de 2019


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Este ano em fevereiro, farei 45. Resgatei hoje a memória de meu pai. Com meus nove anos eu o achava idoso. Velho demais para qualquer coisa que exigisse atos heroicos. Meu pai não era os personagens favoritos da tv. Eu já encontrei-o ultrapassado. Pensamentos meus da época... Perdoei-me pai! Eu pequei!
Os anos se passaram, e relevei a minha idade a casualidade do tempo; em qualquer hora eu poderia saltar de aviões com paraquedas.
Mentira pura! Demoramos a perceber nossas próprias rugas, até quando uma jovem te chama de tio. Ou quando minha filha pequena me vê numa foto e diz: - É o “véi” . Apelido carinhoso como chamava o meu, percebi agora o troco.
Acabamos botando na conta do excesso de trabalho os pequenos esquecimentos, lapsos e perdas de memória, quando já são o sinal de alerta ligado.
A prepotência que tudo ainda dá tempo foi traída com a velocidade com que o corpo se levanta. Parte de mim já se foi, morreu ontem na superfície da pele de meus poros. Eu soube que cinco bilhões por dia morrem. Não me senti em luto, mas juro que deveria ser. Porque eu pensei que era invencível quando criança e que envelhecer era prerrogativas dos outros. A prepotência de todo pensador é se achar livre das regras. Não desisti de viver. Não pensei em me despedir ainda da vida. Não quero deixar meus heróis morrerem - me sinto forte ainda para sonhar de novo. É óbvio que hoje se vive mais e com menos esforço que na época de meu pai. Temos as formulas da juventude em mãos e na cabeça – amar e sonhar: as melhores virtudes de se manter como criança. Outro dia fui assinar um contrato bancário e tive que colocar meu nome em 12 páginas. Parei para refletir que meu nome começava com A, escrito ainda em alfabeto de criança, desenhado e sublinhado nos meus cadernos de caligrafia. Eu pedi ao servidor amigo que tivesse paciência, pois queria dar aquele momento um sentido as minhas memórias.
Qualquer dia desses, eu virarei uma foto em álbum de sala de estar. Assim como meu pai, que fez hoje todo sentido para mim.

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