quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Eu tinha guardado uma grana para comprar o presente de Natal para minha filha menor. Já fazia quase dois meses que não a via, e este dinheiro era o último dos moicanos, lutei por ele ferozmente, disse muitas vezes um não; torci a cara para oportunidades de gastá-lo, lavei meu carro sozinho diversas vezes, briguei com os finais de semana, dizendo que não! Desta vez não sairá da carteira.
Até que ela chegou! Corri para comprar os presentes, torci que fosse dado no mesmo dia, mas oportunidades boas comigo não acontecem! Enfim, abdiquei da alegria de ver seu rostinho e esperei pelo outro dia. Quando ela enfim surgiu, parecia toda resistente, dedinho na boca, de ladinho, me punindo sem querer com seu carisma todo. Não me fiz de difícil - o coração já todo partido de saudade, abracei-a como pude. Beijei-a como pude, ignorando as reticências dos outros desencontros. Eu comprei dois, como a avó dela, eu tenho sempre plano B. O primeiro foi aberto e o segundo também, correu para sentar e já brincar. Entre um momento e outro, meus olhos cintilavam e meus ouvidos ansiavam pela sua voz. Ela demorou-se por pouco tempo, suficiente para avaliar cada brinquedo, novamente peguei-a nos braços e a beijei, menos resistente, ela me apertou as bochechas como sempre faz. Pedia para que enchesse de ar para tirar no aperto. Cheirosa como há muito tempo não sentia seu cheirinho de bebê, toda a recordação só cimentava o meu amor. Na saída, ela disse algo que ninguém entendeu, eu fingi que também não..., mas já havia captado, pediram-na que repetisse: ninguém entendeu, eu sim – aproximei-me bem perto e pedi para retornar a dizer agora de ouvidos e olhos todos direcionados para ela, próximo dos fios de seus cabelos caramelados; ela tornou a dizer – Porque você demorou? Esqueceu, foi?
- Não respondi! Não traduzi a ninguém!
Guardei para mim, a saudade expressa naquela vozinha infantil. Dita só para mim. Uma pequena confissão gostosa, de quem a gente ama muito e não pode responder a verdade. Quisera contar com os olhos o quanto nunca estive longe, mas preferi deixa-la brincar, afoita para chegar à sua casa e compartilhar o que trocamos um com o outro.

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