terça-feira, 24 de maio de 2016

Por culpa não é arrependimento




Outro dia vi no jornal um cara chorar muito por ter cometido um crime se dizendo arrependido de ter feito.  Eu vi e considerei aquilo como premeditadamente pensado, do tipo que se dizia no passado “lágrimas de crocodilo”.

Se você for transplantar isso para casos menos graves, quase comuns da vida cotidiana de cada cidadão, vai poder enxergar muito bem um monte de gente se dizendo arrependido ou mudado.

Minha gente! Se alguém é pego fazendo algo errado, e depois fala de arrependimento logo em seguida, esta jogando com as palavras. Isso se conhece mais como vergonha e constrangimento de ter sido pego. 

Não importa qual o delito ou ato imoral. Pode-se navegar entre a traição ao crime de violência; todos os que são descobertos optam logo para o apelo emocional de se dizerem arrependidos. A palavra arrependimento exige um grau de entendimento infinitamente superior do ser humano que anda praticando algo ou praticou e que no presente entende sua definição e seu peso sobre ele. 

O que não tem nada a ver como o processo doloroso da vergonha que foi submetido quando descoberto. A vergonha entre tantas coisas ruins nos coloca abaixo dos outros. Além do que revela a alma e sua profundidade moral. Aquilo que nos é permitido ver e aceitar; fazer ou concordar. 

Quando alguém pratica profundas mudanças em sua vida; geralmente as mais conhecidas são de cunho religioso – mudando de religião ou vivendo uma fé mais profunda – descoberta de doença terminal – perda de ente amado; isso geralmente começa aos poucos como um prenuncio de arrependimento, todavia só se pode ter certeza mesmo, quando se parte da própria pessoa a necessidade de auto reconhecimento.

A própria sente que até onde chegou não deu em nada. Percebe-se alienada do plano que traçou lá atrás, e em muitos casos se sente sozinha e deslocada das demais. Somente partindo desse ponto começa a ver que certas atitudes a levaram até aqui, e então começa a mudança real e verdadeira. O arrependimento é por natureza algo comparável como um tsunami de emoções. Quebra paradigmas, e destrói conceitos enraizados e certezas absolutas defendidas com afinco. 

Todavia que fique claro: arrepender-se não significa esquecer o passado e jogar para debaixo do tapete das tapinhas nas costas os erros e atitudes cometidas. Temos o péssimo hábito de achar que tudo deve ser esquecido. Jamais deixem que te apague seu passado! É teu e de mais ninguém! Mesmo que não tenha sido de flores, é um importante dado da sua vida. E não podemos perdê-lo, até por ser necessário para lembrar que tipo de pessoa foi e a que deseja ser agora.  Cansei de ver amigos meus referindo-se aos seus estilos de vida, como algo do tipo vivido por duas pessoas diferentes:
O eu do passado
O eu do presente
É um erro pensar assim. Um ser humano não se divide em personalidades e nem sujeitos. A gente é o que é: bom ou ruim, às vezes as duas coisas ao mesmo tempo - somos um ser só. A nossa grande capacidade de se modificar é o que tem de ser valorizada. Desvalorizar o que se foi para santificar o que se tornou; é o mesmo que VAIDADE. Esta implícita nesse ato toda uma vaidade em se achar mais importante do que é de fato. “Eu mudei - Eu sou melhor agora - Eu sou fiel” Tudo eu, eu, eu...
O único EU que deveria importar é quem me tornei.
 O ato de tornar-se é um processo advindo de baixo para cima, camadas que vão se sobrepondo até que se chega a uma conclusão válida. Descobre se uma pessoa modificada e ciente de tudo. 

Se for por culpa, se for por vergonha, se for por constrangimento, não é arrependimento: é fuga e medo de enfrentar seus erros – pior: medo de arcar com as dívidas morais que contraiu com os outros e com si mesmo. Tempo é um aditivo curador e julgador de tudo. Se quiser ver mesmo alguém mudado, veja alguém reagir diferente às coisas que antes tinha por prazer fazê-las. O resto é conversa fora.

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