Outro dia vi no jornal um cara chorar muito por ter cometido
um crime se dizendo arrependido de ter feito.
Eu vi e considerei aquilo como premeditadamente pensado, do tipo que se
dizia no passado “lágrimas de crocodilo”.
Se você for transplantar isso para casos menos graves, quase
comuns da vida cotidiana de cada cidadão, vai poder enxergar muito bem um monte
de gente se dizendo arrependido ou mudado.
Minha gente! Se alguém é pego fazendo algo errado, e depois
fala de arrependimento logo em seguida, esta jogando com as palavras. Isso se
conhece mais como vergonha e constrangimento de ter sido pego.
Não importa qual o delito ou ato imoral. Pode-se navegar
entre a traição ao crime de violência; todos os que são descobertos optam logo
para o apelo emocional de se dizerem arrependidos. A palavra arrependimento
exige um grau de entendimento infinitamente superior do ser humano que anda
praticando algo ou praticou e que no presente entende sua definição e seu peso
sobre ele.
O que não tem nada a ver como o processo doloroso da
vergonha que foi submetido quando descoberto. A vergonha entre tantas coisas
ruins nos coloca abaixo dos outros. Além do que revela a alma e sua
profundidade moral. Aquilo que nos é permitido ver e aceitar; fazer ou
concordar.
Quando alguém pratica profundas mudanças em sua vida;
geralmente as mais conhecidas são de cunho religioso – mudando de religião ou
vivendo uma fé mais profunda – descoberta de doença terminal – perda de ente
amado; isso geralmente começa aos poucos como um prenuncio de arrependimento,
todavia só se pode ter certeza mesmo, quando se parte da própria pessoa a
necessidade de auto reconhecimento.
A própria sente que até onde chegou não deu em nada.
Percebe-se alienada do plano que traçou lá atrás, e em muitos casos se sente
sozinha e deslocada das demais. Somente partindo desse ponto começa a ver que
certas atitudes a levaram até aqui, e então começa a mudança real e verdadeira.
O arrependimento é por natureza algo comparável como um tsunami de emoções.
Quebra paradigmas, e destrói conceitos enraizados e certezas absolutas
defendidas com afinco.
Todavia que fique claro: arrepender-se não significa
esquecer o passado e jogar para debaixo do tapete das tapinhas nas costas os
erros e atitudes cometidas. Temos o péssimo hábito de achar que tudo deve ser
esquecido. Jamais deixem que te apague seu passado! É teu e de mais ninguém!
Mesmo que não tenha sido de flores, é um importante dado da sua vida. E não podemos
perdê-lo, até por ser necessário para lembrar que tipo de pessoa foi e a que
deseja ser agora. Cansei de ver amigos
meus referindo-se aos seus estilos de vida, como algo do tipo vivido por duas
pessoas diferentes:
O eu do passado
O eu do presente
É um erro pensar assim. Um ser humano não se divide em
personalidades e nem sujeitos. A gente é o que é: bom ou ruim, às vezes as duas coisas ao mesmo tempo - somos um ser só.
A nossa grande capacidade de se modificar é o que tem de ser valorizada.
Desvalorizar o que se foi para santificar o que se tornou; é o mesmo que
VAIDADE. Esta implícita nesse ato toda uma vaidade em se achar mais importante
do que é de fato. “Eu mudei - Eu sou melhor agora - Eu sou fiel” Tudo eu, eu,
eu...
O único EU que deveria importar é quem me tornei.
O ato de tornar-se é um
processo advindo de baixo para cima, camadas que vão se sobrepondo até que se
chega a uma conclusão válida. Descobre se uma pessoa modificada e ciente de tudo.
Se
for por culpa, se for por vergonha, se for por constrangimento, não é arrependimento: é
fuga e medo de enfrentar seus erros – pior: medo de arcar com as dívidas morais
que contraiu com os outros e com si mesmo. Tempo é um aditivo curador e
julgador de tudo. Se quiser ver mesmo alguém mudado, veja alguém reagir
diferente às coisas que antes tinha por prazer fazê-las. O resto é conversa
fora.
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