A gente comemora vida. Mas, principalmente lembranças.
O ano era 1982. O único ano que minha mãe resolveu fazer uma
festinha para mim.
Fez bolo com recheio de chocolate e comprou da vizinha os
brigadeiros e salgados. Abriu o guarda roupa, passou meu único terninho azul, de
meia calça e sapato todo engraxado de bico fino, completamente feliz fui para
porta da rua, esperar os “amiguinhos” convidados.
Era dia de domingo, às 15h30min da tarde. Em pé nós
observamos na esquina as pessoas dobrarem e meu coração disparava de ansiosidade,
mas eram só adultos, nenhuma criança surgia; quando entrei de volta, sentia-me
sem voz, tal qual mudo e sem vontade de olhar nos olhos de minha mãe, fazia
força para não chorar, assim como a vi fazendo o mesmo, sentada na cozinha,
conversando consigo mesma, como se justificasse a falta de compromisso dos
pais, pela falta de sensibilidade de não dizer que não mandariam seus filhos.
Assim como ela sofria, eu sofria junto. Quando verdadeiramente
nos importamos com alguém, a nossa dor só diminui, quando observamos que quem
nos ama, sofre além de você, pelos dois com maior intensidade; e a esta razão, resolvi sorrir, trocando a tristeza pela
alegria repentina, como se tivesse passado toda dor, e pedi que me cortasse a
maior fatia de bolo com um copão de guaraná. Minha mãe muito embora uma mulher
com poucas demonstrações de afeto, neste dia sobrou simpatia e paciência
comigo, se não houve festa... - Eu não sei dizer... - Se me abalou? – Eu não
sei dizer... O que eu sei, é que ela até
brincou comigo de forte apache.
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