quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Um festival de fotos no céu


Demorei muito para te escrever, procurei ser sincero, como estou sendo hoje, porque a percebi comigo na minha mente, quando liguei o som do carro para vir trabalhar. Eu tive por 20 anos uma cliente que se tornou uma amiga, não que tenhamos qualquer amizade além da loja, mas ela viu neste ínterim todas as minhas fases... Do início de projetos ao fim dos mesmos. Minha amiga Ceiça, hoje a música me fez lembrar você – ouvia a playlist do anos 80, quando percebi que meu pensamento remetia aos seus pedidos malucos para comigo...
- Alexandre! Faça meu DVD de fotos musicada, toma aqui o cartão da máquina. Quero um backup das fotos e um DVD com música “bem bonitinhas que você sabe meu gosto qual é... (...)”. Eu sabia sim, temos gosto parecido, só que as fotos eram em torno de 700 e até o exagero de 1000 fotos por viagem. Começava aqui nossa desavença! Eu dizia que isso era maluquice: “ Vou levar 5 horas fazendo um só DVD”, tu não dorme não, Ceiça? – Ela brigava comigo, mas no fim, ria...
Ceiça a vida toda amou fazer apenas de duas coisas: Viajar e bater fotos! Teve o disparate de nas duas perdas pessoais recentes, como as mortes do pai em primeiro e depois a mãe, de me pedir para fazer um DVD deles no caixão ( ???). Eu já sabia que a família tinha freado, mas ela escondidinha ultrapassava as fronteiras... Ceiça era assim, doa a quem doer...
Ceiça teve câncer cinco anos do falecimento, esse era o retorno da doença, mas desta vez, conseguiu leva-la muito cedo, na flor da idade para quem tinha 50 e poucos, cheios de muita vontade de registrar tudo. Quem nos via negociando, dizia que era briga feia -  só Deus apartava, mas para gente era só bullyng um com o outro, porque da nossa relação, pegar no pé era o troféu preferido.
Ceiça me fez lembrar-me de meu irmão e de todas as pessoas que vão embora cedo. Já reparou que eles têm uma sede de contar o que seus olhos viram? Parece que precisam respirar mais rápido, correr, apaixonar-se e sentir o mundo mais profundamente do que qualquer um. Quem sente a vida como eles despedem-se todo dia um pouco...
Eu só soube de supetão sua morte, sem avisos, mas imagino que as suas quase 50 mil fotos, estarão todas compartilhadas na mente e nos corações das pessoas. Ceiça não nasceu com o boom das redes sociais; achava muito chato e difícil de mexer com esse “troço”; coisa incrível isso! Até porque é justamente uma época em que as pessoas registram e publicam fotos de pratos e tudo que fazem em suas redes sociais. Mas, ela preferia correr o risco da máquina quebrar ou o filme queimar do que perder a oportunidade de não ter ido aonde ela queria estar. Minha amiga era de chorar rios de lágrimas por um cartão de dados perdido. Já chegou a me esganar por não ter uma cópia de algum DVD que ela tinha perdido. Eu sempre achei que era um modo de vida maluco, hoje não penso mais – ela conseguiu fazer com que eu achasse bom, alguém justificar as cores da vida tirando fotos. Se para ela que tinha estado nos locais nos quais tirou as fotos, mas mesmo assim, curtia chamar as mesmas amigas de viagem para reverem as fotos, em DVD player com 2 horas de duração... Quem sou eu para achar ruim qualquer coisa? Eu só posso me lamentar de não despedir-me... Resolvi hoje: Dizer que senti sua falta quando ouvi você em meu ouvido cochichar : “ Ei aqui eu já bati um monte...”


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