Não chega ser uma novidade no mundo de coisas estranhas,
teve uma época em que toda família posava para fotos com os parentes falecidos.
Mas isso já caducou e deixou de existir na maior parte do planeta.
Todavia hoje terminei um serviço que era de tratamento de
umas imagens de uma senhora falecida. Teve foto de todo tipo, até do velório
dela no caixão.
A pessoa que tirou as fotos em questão é muito amiga de
longa data, do tipo que tenho total liberdade de chama-la “Sua doida”. Ela sabe
que eu escreveria, mas não se importou.
Essa pessoa tem como paixão da vida fotografar tudo que faz.
Tem um verdadeiro memorial registrado de todo tipo de coisas que fez desde que
nasceu. E logico que não seria diferente, as outras pessoas a tomam como “esquisita”.
Todavia sempre tive grande apreço por ela. Sua estrutura emocional é forte.
Decidida. Viaja mais do que 60% das pessoas que eu conheço. Tem uma vida que
podemos chamar repleta de histórias. Nunca a vi queixosa.
Quando seu pai faleceu há cinco anos, eu perguntei logo: - Tu
não tiraste foto dele né?!
- Não, mas vontade eu tive e muita, mas minhas irmãs me
seguraram, tiveram em cima toda hora.
Rimos da situação e seguiu a vida. Eu faço todos os serviços
que ela precisa durante todo esse tempo. Até que mês passado veio à notícia da
mãe dela, que fez a longa viagem que todo ser humano fará, muito embora muitos
pensem que vivem para sempre.
E, não é que tornei a perguntar!
- Tirou foto não né?
- Tirei sim (risos)
- Fiz minha amiga tirar todas as fotos escondidas, mas tirei.
Lógico que só faltei belisca-la, mandando tomar juízo, e com
muito contragosto fiz esse serviço fúnebre para homenagem póstuma.
Isso me permitiu entender que pessoas que tem suas manias,
seus vícios ou suas necessidades, são obstinadas mesmo. Não sei o que a faz bem
ou não, mas sei que sem ser tão autentica quanto ela é, e tão absolutamente
auto aceita em suas virtudes e defeitos, ela consegue passar pelo mundo sem
reclamar como tantos aqui fazem. Talvez
seja isso que a mantenha mais lúcida do que eu – ela está certa eu que mantenho
minha mente ainda presa em estruturas fixas, padrões predeterminados de gente
e sociedade.
O que me leva mencionar outro caso. Outra conhecida de longa
data. Uma senhora de pés no chão. Sem manias, sem costumes, coração grande.
Severa e austera na sua conduta. Família religiosa e cumpridora dos
mandamentos.
- Pegou uma faca semana passada e tentou matar sua chefa. Do
nada, sem coisa alguma, motivos ou explicação. Esta surtada e entrou em
depressão profunda.
Em um mundo onde os valores mais importantes são declarados
em livretos de Augusto Cury. Alice Lispector é tema de bancada, amor é
secundário, relacionamentos são divulgados abertamente em redes sociais e
felicidade é medida por fotos e quantidades de curtidas, eu realmente acho que
os loucos são os mais sábios.
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