terça-feira, 12 de abril de 2016

Crônica da mulher feliz e meu engarrafamento




Ontem por conta de um engarrafamento pesado, fiquei parado em uma rua por pelo menos 5 minutos. Nesse tempo todo, acabei que relaxei na direção e deixei o motor do carro ir diminuindo a rotação e assim,  ele ficou só contando, como ponteiros do relógio que conta o tempo passando, eu esperava que a rua liberasse, e nessa de ficar imóvel fiquei escorado na janela do carro com o cotovelo e a mão apoiando a cabeça; caía nessa hora uma chuva fina passageira, e ao meu lado vinha de encontro um casal na calçada. Os dois bem vestidos aparentando minha idade. 

O que me fez escrever foi exatamente a mulher que caminhava junto ao homem. Ela segurava na mão do cara, com uma alegria tamanha, que me desafiou a observar a cada movimento de cabeça, sorriso e gestual dela.

Gosto por praxe, estudar as pessoas, sou dos que contempla gestuais, sons, movimentos do corpo e outros mais; é algo até sem querer, faz parte de minha concepção de leitura humana. E com aquele tempo todo parado, puder notar cada mudança de expressão dela. Uma mulher bonita por sinal, elegante, estava bem vestida. Conversava alegremente com as pessoas que se aproximavam deles, todos do lado de fora do que parecia ser um evento a se começar dali alguns instantes. 

Em todo o tempo que conversavam, ela olhava para o seu parceiro, olhava com desejo – com um sorriso que iluminava todo o ambiente, olhava e mantinha as mãos entrelaçadas, como se fosse um convite para um baile que ainda não começou.

Ao menor gesto do seu parceiro, em contar algo aos outros, ou sorriso, ela sorria efusivamente igual, com orgulho sabe – orgulho de ser dele.  

Percebia-se nela um encantamento próprio de quem esta plena e cheia de vida. Não sei que tipo de relacionamentos eles têm. Se havia amor ou paixão ali de ambos ou só dela. Mas confesso que viajei nas expressões. Confesso que invejei dele ou dela, não sei definir... Se é que podemos invejar algo puro, eu direi que cobicei aquela sensação dela para com ele. O cara é um homem de sorte. Senti ali que o mundo ainda tinha alguma esperança. Existem uns poucos sobreviventes do bem que nos faz acreditar que vale à pena.

Eu realmente não me importo se era felicidade passageira a dela. O que eu sei é que ninguém tem aquele olhar de admiração para com o outro por nada. Existia ali cumplicidade própria de grandes parceiros. Alegria sincera de uma mulher em se realizar cativadamente forte. Única. Soberana dona de si e do que cerca. Consciente do que quer para sua vida, sem medo de ser feliz.

Lembrei que Paul Young disse uma vez que nossas relações são na maioria decepcionantes. Frustramo-nos facilmente. Tentaremos muitas, e muitas irão fracassar, porque o ser humano é na sua maioria fraco, pouco incisivo na vida. Mas tem, ou melhor, existem alguns outros que farão toda diferença. Existe uma parcela da humanidade que vale à pena insistir, pois delas teremos toda uma garantia de subsistência.

Resumidamente falando, acho que ele quis dizer que vamos sim quebrar a cara várias e várias vezes, mas tem aquela mulher – aquele homem que fará toda diferença em relação aos demais outros que passarão sem deixar sua marca.

Observava aquela mulher que jogava os cabelos para ao lado, se movia elegantemente, como se fosse minuciosa em querer responder a cada pergunta, em ter seus gestos bem compreendidos, em passar um sorriso sincero e verdadeiro. Parecia que se não fosse uma ocasião formal, ela assim mesmo agiria daquela forma. 

Uma mulher que sabe passar presença em qualquer ambiente.
Fiquei pensando naquele cara, se ele no mínimo não a elogiasse a noite toda, por cada canto do seu rosto, por cada expressão e sorriso, por ser ela mesmo ali, eu diria que ele era um idiota e cego. Não é nessa vida que temos um olhar daqueles, sem que seja importante se mencionar.
Parabéns moça, você me fez esquecer uma segunda-feira e com transito.


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