quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

A viagem mais importante

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Existe uma viagem que demoramos a fazer... Apesar das inúmeras passagens compradas, malas feitas, embarques e desembarques. O carimbo no passaporte não atinge verdadeiramente a alma. Tenho um amigo, Antônio, que já fez nas contas dele 87 viagens. Diversos países e cidades, quase que metade da vida dirigindo, viajando a passeio ou trabalho, com 55 anos, ele conversou comigo ontem, perguntei se ainda se emocionava a cada viagem, ele pausou o pensamento, olhou para cima, como quem quisesse resgatar cada memória de cada viagem e disse: - “Não! Não me emociono com mais nada disso! Viajo porque as pessoas passaram a me enxergar assim... Tenho medo de decepcioná-las na minha peça pessoal, onde uma personagem faz de conta que é livre para fazer de tudo. Tem gente que sonha ser como eu, fazer as coisas que eu disse que fiz e faço... Todo mundo diz que fica feliz por mim, menos eu, eu acho...”. Olhei para ele, me mantive em silêncio, porque pessoas que chegam há esta altura da vida, onde a sinceridade dói mais nelas, no que nas palavras. São pessoas capazes de mergulharem no vazio sem sentir frio ou medo... Continuou: - Em minha mais recente viagem, voltei com sentimento que a mala tinha mais conteúdo nela que em mim, durante toda vida, guardei meus melhores sorrisos e não sabia, até que quando cheguei à minha casa, recebi o telefonema de minha filha, era o seu parto, nascia minha primeira neta, cheguei sem saber no melhor momento da vida dela...

- Alô, pai? – Tô indo para hospital, o Senhor vai? – Como assim? – Se vou? Tinha me esquecido... Fui ausente quase à vida toda dela, a pergunta era recorrente e retórica, apropriada a minha distância. Corri para a maternidade para conhecer o pai-futuro-genro na ante sala de espera, mais preocupado do que eu. Pouco depois, surgia pelo vidro a minha neta, linda como se esperar pela beleza da mãe, fofa como todo bebê é; fiquei paralisado, não sei quanto tempo vislumbrei a cena, ali um pedaço de mim, a próxima geração daquilo que não sonhei – eu não era mais eterno – descobri a realidade mais forte todas – eu nunca deixei de viajar, não pelos países e cidades, mas pelos anos, todos esse tempo eles me seguiam, tirando de mim, sorrisos como os da minha filha, belezas como a da minha neta e dias como esse. Eu só sabia agora: Fugia de mim, com medo das pessoas.

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