sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Amor de passarinho

Resultado de imagem para passarinhos distraidos nos vidros
Minha pequena de quatro anos, um dia desses me abraçou forte e se jogou no meu colo e disse: - Pai vai não!
Não sei de onde ela tirou essa declaração de amor, visto que ela é dada a mais completa forma de desinteresse. Ela finge que não está quando eu chego. Ela se esconde e vai brincar dizendo que não quer me ver.
Só sendo minha filha mesmo: Eu que sou um completo falso-desinteresse sobre as pessoas que me são muito caras. Eu que também brinco como adulto que não sinto nada. Aprendo com ela a sentir mesmo dizendo que não.
Observo-a através da minha outra filha, a mais velha, a primogênita que de tanto me viu ensinando esse falso-desinteresse, aprendeu rápido. Nestes últimos tempos tenho andando distraído feito os passarinhos. Os mesmos passarinhos que pela distração acabam quebrando o pescoço. Não quebrei o meu por pura sorte. Ou talvez porque a vida não permita que eu enfurecesse as minhas filhas acertando no prognóstico. Não sou tão eterno quanto antes para elas. Nem a fortaleza que um dia pude ser. O que eternizou com o tempo é o sentimento que solidificou através da certeza que sou frágil e falho. Talvez a minha mais velha ame a minha fragilidade, minha finitude que tudo um dia deixa de ser... Não posso culpar a pequena de não ser quem ela é; tá no seu sangue prometer declarações de amor no completo desinteresse. É a única forma de amor que conheci.

Nenhum comentário:

Postar um comentário