Minha pequena de quatro anos, um dia desses me abraçou forte e se jogou
no meu colo e disse: - Pai vai não!
Não sei de onde ela tirou essa declaração de amor, visto que ela é dada
a mais completa forma de desinteresse. Ela finge que não está quando eu chego.
Ela se esconde e vai brincar dizendo que não quer me ver.
Só sendo minha filha mesmo: Eu que sou um completo falso-desinteresse sobre
as pessoas que me são muito caras. Eu que também brinco como adulto que não sinto
nada. Aprendo com ela a sentir mesmo dizendo que não.
Observo-a através da minha outra filha, a mais velha, a primogênita que
de tanto me viu ensinando esse falso-desinteresse, aprendeu rápido. Nestes últimos
tempos tenho andando distraído feito os passarinhos. Os mesmos passarinhos que
pela distração acabam quebrando o pescoço. Não quebrei o meu por pura sorte. Ou
talvez porque a vida não permita que eu enfurecesse as minhas filhas acertando
no prognóstico. Não sou tão eterno quanto antes para elas. Nem a fortaleza que
um dia pude ser. O que eternizou com o tempo é o sentimento que solidificou
através da certeza que sou frágil e falho. Talvez a minha mais velha ame a minha
fragilidade, minha finitude que tudo um dia deixa de ser... Não posso culpar a
pequena de não ser quem ela é; tá no seu sangue prometer declarações de amor no
completo desinteresse. É a única forma de amor que conheci.
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