Hoje pela manhã, na espera do semáforo abrir, percebi que à
minha direita, em cima da calçada, havia dois cães... Um olhava para o alto, na
direção do semáforo e o outro cabisbaixo para o chão. Quando a luz verde surgiu
no semáforo, o primeiro passou pela faixa de pedestre... Eu ri, e todos riram a
minha volta....mas o outro cão não atravessou, tentou fazer o mesmo, mas ficou
paralisado em cima da faixa de pedestre; logicamente o semáforo permitia a
todos seguirem em frente, porém por um ato que não sei explicar, ninguém
partiu, todos ficaram dizendo: - Anda cara! Passa logo! O cãozinho corajoso
parecia entender o medo do “amigo” e retornou com ele para o ponto inicial.
Esta situação me remeteu a uma lembrança do passado, nos dias em que meu pai
era motorista de ônibus em SP. Nas minhas férias eu viajava com ele, indo e
vindo pelas ruas da cidade. Era época das férias escolares, e neste ínterim
conheci um cachorrinho feito este da foto. Entre 13:00h e 13:30h, o ônibus chegava
em uma determinada parada, nas Perdizes, onde tinha este cãozinho... Meu velho
gostava de animais, e deixava-o subir... O modo como ele subia que era
engraçado: - Ficava no ponto de ônibus e esperava olhando para o motorista, acho
que aguardando um sinal de gentileza, meu pai dizia: - Sobe rapaz! – Ele subia
ligeiro, ziguezagueando entre as pernas do povo, para plantar-se na frente do
batente do motorista como primeiro de todos. Os passageiros em sua maioria
achavam graça e não reclamavam. O cãozinho posicionava-se de uma forma que
parecia saber que logo, logo seria sua vez de descer definitivamente...Eu
percebia que o destino dele era umas 8 paradas depois da que ele foi aceito e
tanto ele sabia disso que quando chegava nela, descia abanando o rabo e corria
de língua de fora em disparada... Para gente só voltar a vê-lo alguns dias
depois.
Cansei de ficar fitando-o, ali parado, com um olhar no
horizonte, eu pensava que ele era gente, em um corpo de cachorro, e imaginava-a
ali reflexivo, com saudades de algum lugar ou pessoa. Se houve algum ser que
transmita paz e quietude, era este cão para comigo, meu pai nunca disse nada,
só o aceitava para juntos viajarmos. Era uma viagem humanitária, onde
esquecíamos que éramos separados por quatro patinhas.
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