segunda-feira, 1 de abril de 2019

Os cincos sentidos da alma


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Quando eu era moleque, fazia um jogo dos sentidos. Tal qual cego. Tal qual cão. Tal qual sensitivo, eu ampliava meus outros sentidos: olfato, tato, paladar, audição e sensação.
Caminhava pelas ruas olhando as pessoas e tentando adivinhar o que pensavam. Absolvidas completamente em suas próprias vidas passavam por mim e eu sugava do ar o seu perfume, a sua compreensão. Era capaz de dizer quem era uma pessoa ruim só pelo odor que deixava.
Em outras vezes eu passava a mão pelos troncos das árvores, a fim de captar o que dizia. De volta do colégio, ficava tateando os muros e paredes, tentando captar o ambiente e as pessoas. Em cima do meu próprio telhado eu fechava os olhos e ouvia o mundo, procurando nas vozes e sons diversos aquele som único – indecifrável! Cansei de tomar banho de olhos fechados, tateando o banheiro para achar o xampu, queria sentir a vida sem precisar dos olhos.
Passei boa parte do meu tempo de criança e adolescência me orientado por coisas que não via – só sentia – era um jeito de não me contaminar com as precipitações das pessoas que gostam de dar nome e razões a tudo. Eu chegava em casa no tempo certo do cheiro do bife de minha mãe.
Acordava pelo cheiro do café, sentia seu humor pelo tom da sua voz, percebia o mundo ainda com os olhos fechados, teimava em abri-los para não perde a magia da compreensão das coisas sem ver.

Perdi meus poderes quando quis ser adulto comprometido com as pessoas e não elas comigo. Resolvi ignorar meus sentidos e acreditar que o real é o que queremos que seja real. O certo virou ver tudo e ignorar as criancices. Mas, o certo mesmo é como minha pequena Sophie antevê, perguntando “Ele vem?” sabendo o que sinto antes mesmo de me ver. Ignorei os sentidos para dar razão as palavras das pessoas que expressam uma coisa e fazem outra. Ignorei a minha sensitividade para não acusar o outro de uma mentira que vai contar em poucos instantes. Enfim eu acreditei em tudo que via para não dizer que sou diferente. O que é uma bobagem completa. O melhor dos mundos é o que você pode amar pela transpiração da pele. A melhor das verdades é aquela que sorri nos olhos, formando uma curvinha de alegria que palavra alguma descobre. A melhor das intenções é aquela que a pessoa senta junta sem dizer nada e não arreda o pé até saber se você esta bem. De resto- fiquem com mundo de adultos.

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