segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Os cincos sentidos da alma



Quando eu era moleque, fazia um jogo comigo mesmo com os sentidos. Tal qual cego. Tal qual cão guia. Tal qual sensitivo, eu buscava ampliar meus outros: olfato, tato, paladar, audição e sensação.

Caminhava pelas ruas olhando as pessoas e tentando adivinhar o que pensavam. Absolvidas em suas próprias vidas - passavam por mim, e eu sugava do ar os seus perfumes e suas compreensões. Era capaz de dizer algo sobre essa alma, só pela sensação que dava.
Em outras vezes eu passava a mão pelos troncos das árvores, a fim de captar o que diziam. De volta do colégio, ficava tateando os muros e paredes, tentando sentir o ambiente e as suas lembranças. Sim, certas moradias possuem uma história contada e recontada da nossa própria história como pessoas que ao passar por um lugar deixa marcada uma lembrança.

Em cima do meu próprio telhado eu fechava os olhos e ouvia o mundo, procurando nos sons diversos aquele som único – quase indecifrável! Cansei de tomar banho de olhos fechados, tateando o banheiro para achar o xampu.
Passei boa parte do meu tempo de criança e adolescência me orientado por coisas que não via – só sentia – era um jeito de não me contaminar com as precipitações das pessoas que gostam de dar nomes e razões a tudo. Eu chegava a minha casa no tempo certo de sentir o cheiro do bife fritando por minha mãe.
Acordava pelo perfume do café, sentia seu humor pelo timbre da sua voz, percebia o mundo ainda com os olhos fechados, teimava em abri-los para não perde a magia da compreensão das coisas sem ver.
Perdi meus poderes quando quis ser adulto comprometido com as pessoas e não elas comigo.
RESOLVI IGNORAR MEUS SENTIDOS E ACREDITAR QUE O REAL É O QUE QUEREMOS QUE SEJA REAL.
O certo é uma palavra acostumada com promessas que não se cumprem. Mas, o certo mesmo é como minha filha mais velha antevê, perguntando “Se estou bem?” sabendo o que sinto antes mesmo de me ver.

Ignorei os sentidos para dar razão às palavras das pessoas que expressam uma coisa e fazem outra. Ignorei a minha sensitividade para não acusar o outro de uma mentira que vai contar em poucos instantes. Enfim , eu acreditei em tudo que ouvia da boca das pessoas para não dizer que sou diferente. O que é uma bobagem completa. O melhor dos mundos é o que você pode compreender pela sua própria sensação. A melhor das verdades é aquela que sorri pelos olhos, formando uma curvinha de alegria que palavra alguma descobre. A melhor das intenções é aquela que a pessoa senta junta sem dizer nada e não arreda o pé até saber se você esta bem. De resto- fique com seu mundo dos OLHOS.

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