terça-feira, 18 de agosto de 2020

O obituário

Para quem tem 15 anos, talvez nunca viu um jornal impresso na vida. Mas, antigamente se comprava um espaço no jornal para divulgar um falecimento de alguém querido. A famosa NOTA DE FALECIMENTO.

Eu sempre ia lá ler quem tinha falecido no dia. Parava alguns minutos para conhecer o que tinham dito sobre o falecido (a). Eram sempre notas e fotos em preto e branco. Típico da nossa era.Talvez o retrato do obscurantismo da humanidade. Um mundo que não existia computadores nas nossas vidas.Hoje em dia, o jovem só conhece o mundo em cores vivas. Nós, os tons cinza e preto. A nossa realidade terminava numa nota de jornal.
Sempre achei que era um curto espaço, resumidamente 15 linhas de uma vida inteira. O obituário deveria ter como no filme "A última palavra", as 4 seguintes regras: 1. Deveria descrever o amor da família, ou pelo menos uma só pessoa que o amasse. 2. Deveria ter a declaração dos amigos, pelo menos um em que ele depositou respeito e admiração. 3. Deveria mencionar um feito do falecido. Alguma coisa ou pessoa na qual ele tocou e modificou a vida. 4. Por último: Um título que fizesse sentido a Nota. Para que uma vida não tenha sido levada em vão.
Nos dias atuais, as pessoas se livram de ir falar da pessoa, prestando condolências virtuais. Parte de um projeto da nossa vontade de não se envolver diretamente com ninguém. Ficarmos frios e distantes, valorizando valores que dão poder. Daí vem um dia e nada disso importa mais. Até porque os obituários são frios, de acordo com a vida de quem o fez por merecer.

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