sábado, 4 de fevereiro de 2017

Japonês do interior

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Essa estória é real
Houve um tempo em que a FAB dava o curso na EAer em três máquinas: PT-19 (primário); BT-15 (básico) e T-6 (avançado). A FAB logo percebeu o exagero disso e se livrou dos BT-15, que ainda por cima tinham fama de matadores, principalmente no tráfego.
Daí que os espalharam em aeroclubes, escolas e mesmo em companhias aéreas, que o utilizavam para certas fases do treinamento para piloto de linha. Uma dessas tinha sua "escolinha" bem no interiorzão de São Paulo. E um dos instrutores era assíduo nos BT-15; tomou conta do pedaço; se vestia como um Top Gun; e começou a fazer acrobacias no cuspe.
Todo o campo era cercado de lavouras, diligentemente cuidadas por japoneses ou descendentes. Bastava o cara levar o avião pra cabeceira que lá vinha o mesmo japa, sempre humilde, que largava tudo que estava fazendo pra apreciar.
Um dia o cara foi decolar; e lá estava o japa, sorridente e inalterável, assistindo. O cara, de supetão, cortou o motor e berrou de lá de dentro se o japa queria voar. O sujeito nem acreditou: claro que sim. Sobe aí então. Taxiou até o hangar e arrumou um paraquedas também pro japa. A assistência se assanhou: o japa tá fodido com esse cara; vai soltar até os bofes. Deu um briefing marromeno pro japa, disse pra ele não mexer em nada; a galerinha de fora com olhares cúmplices... e simbora!!
Na cabeceira, o piloto segurou o bicho nos freios, atacou tudo e começou a correr para a típica "decolagem americana"; que acabou saindo "sul-americana"; dado a embarrigada que deu, bem defronte ao hangar para onde puxou.
Subiu, subiu e subiu. Mandou uns oitos sem muita referência com o solo; emendou um barril com desvirada apressada no topo; e olhou pra trás: o japa era o retrato da felicidade... ou da pura ignorância, coitado. Aí resolveu fazer tunô lento; fez uma porrada deles; a fuselagem curta do avião e sua relativa grande potência só foderam com as tentativas do ás-neófito. Quando ele mesmo começou a marear, deu mais uma olhada pra trás: o japa rindo e inalterado. Pousou; todos vieram "socorrer" o japa, que saiu de boa, com proa de sua enxada.
Antes, porém, o Tom Cruise do Trópico de Capricórnio perguntou - rindo nervoso - pro japa: e aí, gostou da surra??
Ao que o japa responde: sim, gostei muito, mas puxada após decolagem, sem energia. No barril, nariz começou baixo; o tunô, faltando pedal no início, e sobrando no final...
E então o cara: porra, japa! Quem é que tu pensa que é?
- Ah, desculpa... eu Satoshi Isuhara (ou coisa assim); Marinha Imperial de Japão; piloto de Zero; 23 vitórias contra americano, nõ???

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