sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O romance acabou?

Adoraria ter escrito isso...

Retrata bem, mas cópia fiel do retrato do comportamento predatório homem/mulher hoje em dia.

Eu também passei por esta situação. Onde o que você descobre sobre uma pessoa é justamente oposto do que você pensava dela. Culpa de quem? Sei lá, cada um escolhe como quer viver sua vida, e de que maneira vai escrever os capítulos do seu livro pessoal. Só sei que a pessoa deve sempre pensar em quem vai deixar o livro para leitura. Quem ou quais pessoas irão ler o livro de sua vida e te definir. Serão seus filhos? Seus Netos? Amigos/ Ou Mancebo derradeiro de sua vida?

O que se faz hoje marca e coloca um selo em nossas ações futuras. Você só será lembrado pelo que fez e como fez!

Segue a matéria colada, tal qual foi escrita pelo brilhantíssimo Ivan Martins: http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/noticia/2011/08/o-romance-acabou.html

Valeu Fefa!

Diante do comportamento das mulheres, tenho um amigo que acha que sim.

Homens também se queixam. Ao contrário do que imaginam as mulheres, muitos deles estão perdidos e confusos com a forma atual dos relacionamentos. Muitos homens se ressentem da falta de relações mais claras, mais corteses, menos predatórias. Sofrem com isso. Tendo vivido experiências ruins e inesperadas, eles se perguntam, angustiados, se o romance acabou.

Conto uma história:

Tenho um amigo que acaba de se separar depois de 10 anos exatos de casamento. Está de volta ao mercado faz alguns meses e descobriu que as coisas mudaram. “As mulheres não são mais as mesmas”, ele concluiu. Meu amigo teve duas experiências parecidas, ambas ruins.

Na primeira, conheceu uma garota numa festa, passaram uma noite bacana – que teve romance, mas não chegou ao sexo – durante a qual ela insistiu, mais de uma vez, que eles deveriam voltar a se ver. Claro, ele disse. Havia gostado da garota. Trocaram telefones. Quando ele ligou, uns dias depois, ela atendeu de forma apressada e evasiva. Meu amigo deixou passar outro par de dias e ligou novamente. Desta vez marcaram um encontro, durante o qual ela se portou de forma distante e fria. Atônito, ele procurou a amiga que os havia apresentado e soube que a garota “tinha problemas com um ex-namorado”. Desistiu de procurá-la.

A outra experiência foi pior. Ele conheceu uma garota, transaram e começaram uma relação. Escaldado pela experiência anterior, diz que evitou procurar demais ou ligar demais ou parecer interessado demais. Funcionou, por algum tempo. Mas, estimulado pelas demonstrações de carinho, interesse e até ciúme da parte dela, ele diz que baixou a guarda e se deixou envolver. Então as coisas começaram a desandar. Diante de alguns perdidos, depois que ela sumiu um fim de semana inteiro, ele perguntou o que estava acontecendo e ouviu um clássico: “Não gosto de ser cobrada”. Daí foi ladeira abaixo até a ruptura, alguns dias e vários telefonemas infames depois. Essa parte todo mundo sabe como é.

Meu amigo está bravo, perplexo e pessimista.

Acha que durante o seu casamento ocorreu uma mutação que transformou as mulheres em bichos masculinizados. Elas não querem proximidade, intimidade, compromisso. O jeito tradicional de conquistá-las – oferecendo atenção, carinho e exclusividade – não funciona mais. Homens e mulheres dizem ao meu amigo que “essas meninas não sabem se relacionar”. Que o único jeito com elas é transar, tratar mal e manter distância. Assim elas ficam interessadas. “Têm pânico de envolvimento”, dizem a ele. Namoro como ele gostaria não existe mais, garantem. Relaxar gostosinho e viver um relacionamento apaixonado? Nem pensar: cada um tem duas ou três pessoas para consumo eventual, mas, a rigor, ninguém é de ninguém. É open bar, dizem a ele, mas não se pode levar nada para casa.

O que vocês acham disso?

Eu acho que estão dizendo ao meu amigo apenas meia verdade. Sim, as coisas mudaram nos últimos anos. As relações entre homens e mulheres se tornaram mais duras, mais ásperas. Sim, as mulheres masculinizaram seu comportamento. Muitas agem com o mesmo desapego e frieza com que os homens sempre agiram: pegam, transam, largam. É uma espécie de retribuição. É também o prazer de exercer seus desejos sem culpas e sem remorsos, sem amarras morais. Com descaso pelo outro, claro. É um mundo darwiniano em que todo mundo bate e todo mundo sofre. Quem pode mais chora menos. Mas qual a surpresa? Vivemos o individualismo triunfante em todos os aspectos da existência, não seria diferente nos relacionamentos afetivos: “Ema, ema, ema, cada um com seus problemas”.

Mas essa é apenas metade da verdade.

A outra metade – eu acho - é que nem todas as garotas estão felizes. Muitas estão loucas para descer da roda-gigante. Também querem carinho e sossego. Precisam ser amadas, bem tratadas, bem comidas. Nunca ter ninguém na noite de sexta-feira é uma droga. Acordar de ressaca no sábado ao lado de um cara qualquer não é o melhor começo de um fim de semana. Andar por aí procurando, todo o tempo, procurando. Quem quer essa vida? Em vez disso, que tal dirigir até a praia de casal, viajar para o Rio no feriado, andar de mãos dadas em agosto na avenida Paulista, antes de entrar no cinema? Minha experiência sugere que boa parte das garotas está interessada em romance, mas nem sabe direito onde procurar – e talvez nem saibam o que fazer quando a possibilidade se apresenta. Há tanto lixo na nossa cabeça que às vezes fica difícil ser feliz, né?

Digo a vocês, portanto, o que eu tenho dito ao meu amigo: paciência.

A mulher certa aparece, as coisas rolam. Já aconteceu comigo, vejo acontecendo à minha volta o tempo todo. As gatas mais selvagens acabam convertidas à monogamia pela dose certa de atenção, sexo e sentimento. Ao menos temporariamente. As mulheres mais evasivas podem ser envolvidas por uma conversa sincera e inteligente – desde que ela venha na hora certa, talvez do cara certo. Há que tentar sem medo.

Importante é não se deixar levar pela misoginia corrente, provocada pela perplexidade e pelo ressentimento dos homens. As mulheres não viraram monstros egoístas. Elas viraram seres humanos mais parecidos conosco. Demonizar o comportamento feminino não ajuda a entender droga nenhuma. Assim como não adianta endeusá-las. Nem santas, nem putas e nem filhas da puta, elas são só garotas.

(Ivan Martins escreve às quartas-feiras.)